sábado, 18 de abril de 2009

Volkswagen Voyage
Partindo do zero, o sedã recomeça sua batalha para tentar repetir o sucesso de seu irmão hatchback
Por Por Marcelo Moura | Fotos: Marco de Bari

O Voyage é o Gol com porta-malas. Tem cara de Gol, motores 1.0 e 1.6 de Gol e espaço nterno de Gol. Das 1944 peças que fazem o Voyage, 87% são comuns ao Gol. Graças ao acréscimo na traseira, o carro esticou 33,1 centímetros – diferença menor que os 40 centímetros que essa revista tem, quando está aberta. O Voyage é só isso, um Gol espichado? Só isso. Ou tudo isso.

A maior parte dos elogios que fizemos ao novo Gol se aplica ao Voyage. É um carro simples, mas feito com muito capricho, por gente que ouviu as principais necessidades do público (custo de manutenção e valor de seguro) e fez um esforço consistente para atendê-las. Hatch e sedã dividem a atenção dos 308 novos robôs da linha de montagem de Taubaté (SP), bem como os instrumentos de medição a laser de carroceria, que garantem padrão de montagem mais para novo Golf alemão que para Gol Geração IV. Os discos de freio com medidor de desgaste apresentados no novo Gol também estão no sedã, assim como o sistema de chave codificada de Lamborghini Gallardo (difícil de clonar) ou os calços de motor feitos de alumínio, para filtrar vibrações. O Voyage é silencioso, sem reações estranhas, e trava comunicação sincera com o motorista – tanto quanto o novo Gol.

A diferença de peso não é tão grande. São apenas 35 kg a mais, mas eles ficam depois do eixo traseiro, num efeito gangorra que deslocou o centro de gravidade do carro 3 centímetros para trás emotivou uma leve mudança geral na suspensão.Para o Voyage ter a altura do Gol, quando parado, as molas traseiras ficaram mais duras no estágio inicial. Para as molas mais duras não jogarem o carro para a frente, quando em movimento, os amortecedores traseiros também ficaram mais firmes. Para a traseira mais pesada não rolar tanto nas curvas, a suspensão traseira (por barra de torção) ganhou um reforço na lateral de cada braço. A suspensão reforçada e a carroceria naturalmente mais fechada deram ao Voyage rigidez dinâmica 7% maior que a do Gol. Para compensar a maior firmeza da traseira, a suspensão dianteira tem barra estabilizadora em todas as versões (coisa que o Gol básico não tem). E o sistema de freios ganhou uma válvula equalizadora, para as rodas de trás poderem brecar com mais força quando o porta-malas estiver carregado, sem travar quando a traseira estiver leve.



O Gol usa as portas do Voyage. E não o contrário.
A Volkswagen mudou tudo isso para não mudar nada. “Nossos pilotos de testes não são capazes de perceber qual é o sedã e qual é o hatch”, diz Alexandre Almeida, gerente de engenharia. O trabalho que a equipe de chassi teve para igualar os dois irmãos, a turma de cores e acabamento interno teve para diferenciar. É coisa leve, mas presente. Nos tecidos dos bancos e dos painéis de porta, onde o Gol é cinza-azulado, o Voyage é cinza-avermelhado. A idéia é trazer um futurismo gelado para o hatch e aconchego quente para o sedã. Duas cores de carroceria também são exclusivas: há esse CinzaStone e o Vermelho Apple, menos alaranjado que o Vermelho Radiante do Gol. Há uma discreta elegância no quadro de instrumentos de duas cores e nas costuras caprichadas dos bancos, mas, para evitar briga com o Polo Sedan (que ficará um pouco mais caro), o Voyage completo parece simples. O Gol também parece, mas no sedã isso pesa mais.

Porque os 33,1 centímetros de acréscimo na carroceria representam uma diferença e tanto entre os públicos de Gol e Voyage. Quem compra um sedã pequeno quer o status de estar num nível superior. “As pessoas diziam com todas as letras: eu quero mostrar que tenho mais dinheiro que o meu vizinho de garagem”, diz Marcelo Olival, gerente de marketing da Volkswagen.

As quatro clínicas feitas para o Voyage fizeram a montadora batizar essa versão completa como Comfortline (como nos Polo, Golf e Passat), em vez de Power (como no Gol). E só o sedã tem desembaçador, faróis duplos e porta-malas com abertura elétrica de série. Nos carros sem trava elétrica nas portas, o comando fica num botão no centro do painel. Na versão com chave canivete, basta apertar o botão do controle remoto. A tampa traseira levanta-se sozinha e uma luz interna acende: além de ser prático para quem está com as sacolas do supermercado na mão, confere certa cerimônia à apresentação da atração principal do Voyage.



O Comfortline tem aerofólio no porta-malas.
O porta-malas de 480 litros é coberto de carpete por dentro e por um painel de plástico no verso da tampa (com alça, para o dono fechar sem sujar a mão na carroceria empoeirada). Deixa longe os 285 litros do Gol ou mesmo os 432 do Polo Sedan. Em parte porque o Voyage tem capacidade maior,em parte pelo melhor equilíbrio entre largura, profundidade e altura. Os arcos da tampa podem esmagar alguma bagagem quando esta for fechada, mas o gerente de desenvolvimento Antonio Carnielli Junior afirma que isso dificilmente vai acontecer: “Cuidamos para a distância entre os arcos ser a maior possível. As bagagens grandes, que ficarem entre as caixas de roda, estão fora do alcance”.

Apenas as caixas de roda limitam a boca de comunicação entre porta-malas e cabine, e o banco traseiro é rebatível. No Comfortline ele é bipartido e nos demais isso é opcional. Não é um porta-malas espantoso, como o do Citroën C4 Pallas e seus 580 litros, mas é tão bom quanto o do Fiat Siena (de 500 litros). Estar no nível do principal rival é o mínimo a que o novo Voyage pode se permitir.

Os 33,1 centímetros de acréscimo na carroceria representam uma diferença e tanto entre o desafio que os dois irmãos têm pela frente. O novo Gol é herdeiro de um nome que emplacou 4,7 milhões de unidades no Brasil desde 1980. O Voyage emplacou menos de 10% disso, de 1981 a 1996. Nos 12 anos em que ficou aposentado, o mercado de sedãs pequenos ganhou nomes como Prisma, Siena, Fiesta Sedan e Logan e cresceu em importância: representava 7% dos carros de passeio, em 2002, e chegou a 15%, em 2007. Nesse tempo, a Volkswagen perdeu a liderança do mercado brasileiro. A urgência de voltar para a briga era tão grande que a fábrica planejava lançar o sedã antes do novo Gol. Mudou de idéia para não tirar impacto de seu principal produto, mas quer que o Voyage enfrente seus rivais o quanto antes. Nós também.


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VOYAGE 1.6
R$ 38000

Como no Gol, o Voyage completo é simples. Rodas de liga, rádio ou ar-condicionado, é quase tudo à parte.


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TOSTINES




O Voyage é um Gol sedã ou o Gol é o Voyage hatch? Em dois anos e meio de projeto, o sedã puxou a fila algumas vezes. “Fizemos a porta dos passageiros de trás com corte inclinado. Era indiferente para o estilo do hatch e deixou suavizar a curva do teto do sedã”, diz Gerson Barone, gerente de design. Com perfil suave, o Voyage tem coeficiente de penetração aerodinâmica de 0,31, contra 0,34 do hatch. Atrás, o Gol voltou a liderar. “O Voyage é aplicação do mesmo conceito.” As lanternas maiores têm um efeito especial: na diagonal, a lâmpada lembra uma bola de golfe. De trás, é o holofote do Gol.


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ESTRUTURA





Gol e Voyage compartilham até a base que vai sob o carro – a diferença de comprimento entre os dois carros foi ocupada por uma extensão de chapa e de longarinas (peças azuis). Isso barateou o projeto em cerca de 4 milhões de reais. Para o comprador, o bom é que parte das batidas será consertada trocando só a porção final do piso. Isso ajudou o Voyage a ganhar índice 14 no teste de reparabilidade do Cesvi – pior que Logan e Polo Sedan (13), mas bem melhor que Siena (29) e Siena Fire (30). O ruim é que o estepe do Voyage ficou longe do pára-choque, exigindo força na troca de pneu.


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VEREDICTO

O Voyage não surpreende, o que pode desagradar certos fãs de sedãs. Mas é sólido, sóbrio e bom de dirigir.

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